Teste 1

Teste 1

domingo, 21 de novembro de 2010

UM SONETO AOS PEDAÇOS


 
Nós necessitamos de um resto expresso
De um pouco de decoro e compaixão,
De um quase amor sem telhado e sem chão,
De um vinho frio numa boca sem nexo.

Mais ainda: reaprendamos a lição,
Quem sabe de uma cantiga ou das flores,
Por Geraldo Vandré num disco em cores
E que já não nos espera mais, não.

Tenhamos filosofias aos pedaços,
Miragens emendadas aqui, ali,
Na falsa esperança de quem sorri.

Então, em um dia de trêmulos abraços,
Mirarmo-nos plenos em cada um,
Em imagens fragmentadas em zoom.

(Luciene Lima Prado)

A FLOR

Imagine uma flor:
Bela, simples, solitária.
Uma flor que nasce,
Timidamente, sem ser notada,
Ao pôr-do-sol.
Flor que nasce sem saber para quê.
Imagine essa flor:
Ofuscada pelo pôr-do-sol,
Não sendo notada.
Uma flor qualquer, de beleza qualquer.
Mas, olhando bem, é linda
Como todas as flores nos jardins alheios.
Imagine uma flor sem nome,
Sob a sombra de um arbusto qualquer.
Imagine uma flor que se apaga aos olhos de todos,
Quando o Sol se deita
E deixa com a noite sonhos ou pesadelos.
Imagine uma flor:
Bela, simples, solitária;
Ofuscada pelo pôr-do-sol;
Uma flor sem nome,
À sombra de um arbusto;
Oculta por uma noite que parece sem fim.

(Luciene Lima Prado) 

sábado, 20 de novembro de 2010

OVELHA DESGARRADA

Pelas calçadas,
De folhas cobertas,
Ando como criatura abjeta.
Do amor me escondo,
Disfarço-me, adormeço.
Dos pecados não me afasto,
Vivo a segui-los sem sabor.
Dia e noite de choros ocultos,
Sussurrando orações em vão,
Sinto morrer, aos poucos,
A minha alma desgarrada.
Por que, Senhor,
Apesar de tudo isso que sou,
Tu vens como um auxílio
E seguras minha mão nesta travessia?

(Luciene Lima Prado)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PERFUME


...Mas ainda ficou o cheiro de cravo,
Um amor que continua sendo escravo;
Tão distante uma canção “al di la”,
Enquanto um sono sereno não há.



Um enlevo quando a brisa aproxima,
Feito uma fada a transformar um clima;
O bom perfume de cravo outra vez,
Que traz num arquejar a placidez.



Trazem as brumas um doce acalanto,
Que deixa no ar um certo quebranto;
E outra canção luminosa se ouve.



Seja a terna lembrança que se aprouve,
Seja o cheiro bom que nunca se esvai;
É amor que fica enquanto a noite cai.

(Luciene Lima Prado)

sábado, 13 de novembro de 2010

CAMINHO OCULTO (vilanela)

O meu caminho está oculto,
A minha sombra não vejo,
Minha sorte é um impulso.

De longe percebo um vulto,
Em mim eu sinto um arquejo:
O meu caminho está oculto.

Quiçá eu consiga um indulto,
Porque no meio do cortejo,
Minha sorte é um impulso.

Meu destino acha-se avulso,
Que me causa grande pejo;
O meu caminho está oculto.

E quem vê em mim um ser culto?
Os meus fins são um trovejo,
Minha sorte é um impulso.

Um dia me tornarei adulto,
Mas fico só no desejo:
O meu caminho está oculto,
Minha sorte é um impulso.

(Luciene Lima Prado) 

CALAR-SE

É necessário o silêncio:

Porque chegou a hora.
O calar-se ensina muito,
Mostra muito
E, até mesmo encanta.



É necessário o silêncio:
Quando a noite vem,
Todos vão embora
E, de repente,
Vem o mal de falar.



É necessário o silêncio:
Onde nada acontece,
Nada dá certo,
Tudo está ruim,
E todos estão errados.



É necessário o silêncio:
Para quem tem medo,
Para quem chora,
Para quem maltrata,
Para quem se vai.



É necessário o silêncio:
Se o passado se foi,
Se o presente incomoda,
Se o futuro atordoa,
E o mundo continua.



(Luciene Lima Prado) 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SONETO DA CANTIGA AO LONGE


Além das cercas: probabilidades
Ou um encontro indesejado com Hades;
Quisera eu não ter medo das alturas
E, do meu amado, acreditar nas juras.

Detém-me, uma dúvida parasita,
Que no meu mortiço sangue transita
E se mistura aos meus próprios enganos,
Oriundos de outros tons, outros anos.

Se minha alma penará, não sei,
Ou, então, se paz presumível terei;
Resta-me a incerteza carrasca e cega.

Quem, pois, me contará sob esse céu
Que ainda terei como menestrel,
Aquele que meu sentimento rega?

(Luciene Lima Prado)

RONDEL DO PENITENTE

Eu ser santo deveria,
Pois tudo em mim dói
Ao subir esta escadaria;
E eu nem santo, nem herói.

Por essa dor que me mói,
Ajoelhado em romaria,
Eu ser santo deveria,
Pois tudo em mim dói.

Por São José e Santa Maria,
Vai-se o mal que me destrói;
No escorrer desta sangria,
Por esta peleja que me corrói,
Eu ser santo deveria.

(Luciene Lima Prado)

domingo, 7 de novembro de 2010

O CAIR DA TARDE

Naquelas montanhas
Que vês ao longe
vem descendo
Os passos mais pesados,
Com o frio vento
A descer também.

E no silêncio constante
Do monge,
A vida ultrapassa
Todos os prados
Sem que todo mundo
Responda: "Amém".

(Luciene Lima Prado)

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