Teste 1

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domingo, 19 de dezembro de 2010

NATAL

Trata-se de um poema bastante simples, mas que na simplicidade de todos nós, Cristo renasça em nossos corações. Feliz Natal para todos nós.

NATAL 

Bate o sino no nosso coração pequenino,
Mas é na pequenez que cabe Jesus Cristo
E a existência humana se agiganta.

Enorme a presença do meu Senhor Menino,
No mundo estreito de nosso ser em sorriso,
Que nítida se torna se temos a vida santa.

Bate o sino nesta noite muito especial,
E mais forte bate o coração de todos nós,
Desejando a presença do Salvador.

Que seja de verdade nosso Natal,
E gritarmos todos em uma só voz:
Salve o Cristo que é o Amor Maior.
(Luciene Lima Prado) 
Por enquanto, necessito me afastar do blog por motivo de saúde, mas com fé em Deus eu retorno.  Abraços natalinos.  

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CADERNO DE POESIAS

Deslizam pelas linhas alguns versos,
Que antes foram delírios avulsos.

Versos que são delicados impulsos
De pensamentos recém-travessos.

Quiçá um entrecorte de vocábulos,
O equilíbrio entre a pedra e a pluma.

Sabe-se que a poesia é uma bruma,
A que não se permite cálculos.

E quem dirá que versos não são,
E sim, delírios inconsequentes?

Ah! Palavras que provocam as mentes,
Desautorizam todas as linhas de razão!

(Luciene Lima Prado)

domingo, 21 de novembro de 2010

UM SONETO AOS PEDAÇOS


 
Nós necessitamos de um resto expresso
De um pouco de decoro e compaixão,
De um quase amor sem telhado e sem chão,
De um vinho frio numa boca sem nexo.

Mais ainda: reaprendamos a lição,
Quem sabe de uma cantiga ou das flores,
Por Geraldo Vandré num disco em cores
E que já não nos espera mais, não.

Tenhamos filosofias aos pedaços,
Miragens emendadas aqui, ali,
Na falsa esperança de quem sorri.

Então, em um dia de trêmulos abraços,
Mirarmo-nos plenos em cada um,
Em imagens fragmentadas em zoom.

(Luciene Lima Prado)

A FLOR

Imagine uma flor:
Bela, simples, solitária.
Uma flor que nasce,
Timidamente, sem ser notada,
Ao pôr-do-sol.
Flor que nasce sem saber para quê.
Imagine essa flor:
Ofuscada pelo pôr-do-sol,
Não sendo notada.
Uma flor qualquer, de beleza qualquer.
Mas, olhando bem, é linda
Como todas as flores nos jardins alheios.
Imagine uma flor sem nome,
Sob a sombra de um arbusto qualquer.
Imagine uma flor que se apaga aos olhos de todos,
Quando o Sol se deita
E deixa com a noite sonhos ou pesadelos.
Imagine uma flor:
Bela, simples, solitária;
Ofuscada pelo pôr-do-sol;
Uma flor sem nome,
À sombra de um arbusto;
Oculta por uma noite que parece sem fim.

(Luciene Lima Prado) 

sábado, 20 de novembro de 2010

OVELHA DESGARRADA

Pelas calçadas,
De folhas cobertas,
Ando como criatura abjeta.
Do amor me escondo,
Disfarço-me, adormeço.
Dos pecados não me afasto,
Vivo a segui-los sem sabor.
Dia e noite de choros ocultos,
Sussurrando orações em vão,
Sinto morrer, aos poucos,
A minha alma desgarrada.
Por que, Senhor,
Apesar de tudo isso que sou,
Tu vens como um auxílio
E seguras minha mão nesta travessia?

(Luciene Lima Prado)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PERFUME


...Mas ainda ficou o cheiro de cravo,
Um amor que continua sendo escravo;
Tão distante uma canção “al di la”,
Enquanto um sono sereno não há.



Um enlevo quando a brisa aproxima,
Feito uma fada a transformar um clima;
O bom perfume de cravo outra vez,
Que traz num arquejar a placidez.



Trazem as brumas um doce acalanto,
Que deixa no ar um certo quebranto;
E outra canção luminosa se ouve.



Seja a terna lembrança que se aprouve,
Seja o cheiro bom que nunca se esvai;
É amor que fica enquanto a noite cai.

(Luciene Lima Prado)

sábado, 13 de novembro de 2010

CAMINHO OCULTO (vilanela)

O meu caminho está oculto,
A minha sombra não vejo,
Minha sorte é um impulso.

De longe percebo um vulto,
Em mim eu sinto um arquejo:
O meu caminho está oculto.

Quiçá eu consiga um indulto,
Porque no meio do cortejo,
Minha sorte é um impulso.

Meu destino acha-se avulso,
Que me causa grande pejo;
O meu caminho está oculto.

E quem vê em mim um ser culto?
Os meus fins são um trovejo,
Minha sorte é um impulso.

Um dia me tornarei adulto,
Mas fico só no desejo:
O meu caminho está oculto,
Minha sorte é um impulso.

(Luciene Lima Prado) 

CALAR-SE

É necessário o silêncio:

Porque chegou a hora.
O calar-se ensina muito,
Mostra muito
E, até mesmo encanta.



É necessário o silêncio:
Quando a noite vem,
Todos vão embora
E, de repente,
Vem o mal de falar.



É necessário o silêncio:
Onde nada acontece,
Nada dá certo,
Tudo está ruim,
E todos estão errados.



É necessário o silêncio:
Para quem tem medo,
Para quem chora,
Para quem maltrata,
Para quem se vai.



É necessário o silêncio:
Se o passado se foi,
Se o presente incomoda,
Se o futuro atordoa,
E o mundo continua.



(Luciene Lima Prado) 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SONETO DA CANTIGA AO LONGE


Além das cercas: probabilidades
Ou um encontro indesejado com Hades;
Quisera eu não ter medo das alturas
E, do meu amado, acreditar nas juras.

Detém-me, uma dúvida parasita,
Que no meu mortiço sangue transita
E se mistura aos meus próprios enganos,
Oriundos de outros tons, outros anos.

Se minha alma penará, não sei,
Ou, então, se paz presumível terei;
Resta-me a incerteza carrasca e cega.

Quem, pois, me contará sob esse céu
Que ainda terei como menestrel,
Aquele que meu sentimento rega?

(Luciene Lima Prado)

RONDEL DO PENITENTE

Eu ser santo deveria,
Pois tudo em mim dói
Ao subir esta escadaria;
E eu nem santo, nem herói.

Por essa dor que me mói,
Ajoelhado em romaria,
Eu ser santo deveria,
Pois tudo em mim dói.

Por São José e Santa Maria,
Vai-se o mal que me destrói;
No escorrer desta sangria,
Por esta peleja que me corrói,
Eu ser santo deveria.

(Luciene Lima Prado)

domingo, 7 de novembro de 2010

O CAIR DA TARDE

Naquelas montanhas
Que vês ao longe
vem descendo
Os passos mais pesados,
Com o frio vento
A descer também.

E no silêncio constante
Do monge,
A vida ultrapassa
Todos os prados
Sem que todo mundo
Responda: "Amém".

(Luciene Lima Prado)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SONETO EM AMARELO

Deixo-te a fragrância da erva-doce,
As sílabas aladas de um poema,
O conforto seco de uma novena;
Deixo-te tudo que comigo eu trouxe.

Quando nas tuas ideias flutuantes,
Vires minha silhueta no orvalho
Ou na grandiosidade de um carvalho,
Estarei no amor que tu me abranges.

Da ausência que me faz presente em ti,
Florescem surrealismos de Dali
Nos canteiros áuricos de Van Gogh.

Naquela tarde, adiante de um iogue,
Serei eu a retornar sobre os raios de sol,
Silenciosa como um caracol.

(Luciene Lima Prado)

PINGENTE

Mil sonhos no meio do caminho
De um poeta ou de uma moça sem flor,
Sob a chuva que tem gosto de “posso?”
Em todo caminho uma pedra,
Ainda que invisível;
Em todo verso, um Drummond,
Mesmo mudo.

(Luciene Lima Prado)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DIÁLOGO "INCORRESPONDIDO"

Troco meus rabiscos por tuas palavras desordenadas,
Que venha dar sentido ao meu fugidio pensamento.

       Palavras sem rumo, porém, encadernadas,
       Não as troco por teus rabiscos sem movimento.

Troco meus rabiscos pela incerteza de tuas palavras,
Para mim, são retas para meus pés tortos.

       Minhas palavras são dos meus vulcões as lavas,
       Que não as deixo ao toque dos teus lábios ignotos.

Troco este coração rabiscado num papel qualquer
Por esse teu texto sem vírgula ou ponto final.

       Não troco meu texto, misteriosa mulher,
       Por teu coração rabiscado com veneno mortal.

(Luciene Lima Prado) 
    

sábado, 23 de outubro de 2010

SONETO À FLOR DOS TEUS SENTIDOS



Não lhe poderei dizer com firmeza,
Se nos poemas minha alma exponho;
A poesia é carne, caminho e sonho,
Em que todos têm a mesma beleza.

Alma que pode ser a tua ou a de um anjo,
Não a distingo de mim nem da canção;
Na poesia tenho mais de um coração
Que palpitam formando um belo arranjo.

Se disser que sou flor mesmo não sendo,
A verdade de outrem é meu rebento;
Pois eu digo: outras almas são minhas.

Contudo, se de mim duvidas tanto,
Se a ti provoco desmedido espanto,
Tenha fé, então, nas minhas entrelinhas.

(Luciene Lima Prado) 

SEM BELEZA

Vou assim:
De sobrancelhas sérias,
Lábios tímidos,
Roupa fechada
Em meu corpo invisível.

Vou sem esperar:
Beijo da estrela da sorte,
Toque suave dele,
Perspectivas,
Um copo de vinho,
Insônias.

Bem que eu queria:
Uma taça de vinho
Para minha vida minúscula;
Como um banho inteiro,
Um choque prolongado,
Um curto-circuito
Na minha existência supérflua.

Só uma gota de vinho: luz neon das idéias.

(Luciene Lima Prado)

sábado, 16 de outubro de 2010

NOVA ESTAÇÃO

Deixai-me derramar todo meu pranto
Para findar todo meu desencanto.

Amanhã não voltarei,
Contudo, estarei sorrindo.

Levo tudo o que hoje sei,
Menos o amor que está dormindo.

Enxugarei meus olhos ao vento,
Mas o vento ainda não vem.

(Luciene Lima Prado)

domingo, 10 de outubro de 2010

ÉBRIO

Palavras poucas, sentimento tanto...
E o vinho se perde dentro do corpo;
Faz do espírito um transeunte absorto
Ante a vida que se quebra de espanto.

Hão de surgir outros corpos, descalços:
Quem sabe, sem voz; quem sabe, poetas,
Em ideias embriagadas, mas diretas,
Com a certeza dos risos não falsos.

Num momento de confusa ressaca,
Quase morrer e esquecer-se do vinho,
Descobrir-se um ser escasso e sozinho.

Com um grito, cortar a dor que ataca,
Porção a porção, a existência doentia
Que, ainda infeliz, tem sua serventia.

(Luciene Lima Prado) 

O SER HUMANO É UM RIO

O ser humano é um rio
Por onde todas as coisas atravessam,
Um rio que ainda não encontrou o mar.

Por onde todas as coisas atravessam,
O ser humano se estende ao léu;
Ele é rio e transborda...

O ser humano se estende ao léu,
Correndo pleno, levando o mundo
Para o mar... Mas onde está o mar?

O ser humano é um rio
Que ainda não encontrou o mar.
Correndo pleno, levando o mundo,
Ele é rio e transborda...
Para o mar... Mas onde está o mar?

(Luciene Lima Prado)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

METAMORFOSE

Que diria eu a Gregor Samsa*,
Ao último adeus da esperança?

Culparia Kafka e todos os pensadores
Por terem se esquecido das flores.

Que diria eu a Gregor Samsa? O quê?
Que são de plástico as rosas do meu buquê?

Não me atreveria a matar inseto algum,
Pois carregam consigo nossa imagem em jejum.

Quiçá eu me calaria e tudo lhe diria num abraço,
Mas minhas falsas asas já não se abrem de cansaço.

(Luciene Lima Prado)

*Protagonista de “A metamorfose”, de Kafka.

Aos amigos que não me deixam desistir de escrever. Um abraço especial para minha colega de trabalho, Miralva.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

INCÓGNITA


O meu pranto não tem o gosto salgado;
Quem o prova somente o sente amargo,
De enredo denso a La Woolf ou Clarice,
A esperar doridamente a velhice.

Eu quero em desenredos me implodir,
Causar em mim bem mais que frenesi,
Trazer a mim as flores que não tenho,
Devagar desfazer este meu cenho.

Não choro de tristeza sob esta noite,
Presta atenção que sou o próprio lamento
Que amarga sem dó até o passivo vento.

Vou embora e deixo as vozes se trancando,
Atravessando Orlando e Macabea,
Manchando o poema que em mim estréia.

(Luciene Lima Prado)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SEM PLACAS

As curvas das estradas são segredos,
Assim são as curvas dos olhos teus.

Por onde fores, levarás meus medos,
Mas nunca ouvirás o meu adeus.

Se curvas tu és, sou eu as linhas,
Ainda não traçadas em tua boca.

Nestas passagens que já as vejo fininhas,
Tua falta se reforça em minha vida tão pouca.

(Luciene Lima Prado)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DE OLHOS FECHADOS

Basta para mim o descanso,
Tudo mais é desperdício.

Sinto meu corpo ranço
Preso neste caminho difícil.

Porque tudo me cansa,
Mesmo tua carícia.

Já não tenho a palavra mansa
Que me dava o tom de malícia.

Quero descansar neste banco,
Nesta praça cheia de lírios.

No descanso eu me tranco,
Livre de mais martírios.

(Luciene Lima Prado)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

SONETO IMPERFEITO


Perdido está meu penúltimo verso,
Dentro de algum caderninho disperso;
O último espero gerar entre meus dedos,
Os mesmos onde guardo meus segredos.

Eu tenho um poema não concluído,
Cheio de palavras, falho de sentido;
Uma poesia onde não posso me achar,
Onde se perdeu, em verso, o verbo amar.

Há quem espera um poema qualquer,
Do meu coração de triste mulher,
Feito com belas letras inclinadas.

Mas o que escrevi são horríveis rasuras,
(Nascidas nas minhas tardes escuras)
Donde surgem poesias inacabadas.

(Luciene Lima Prado)

(ANOITECEU DE VEZ)

A noite costuma vir aos poucos,
Mas hoje veio mais cedo.

(Na penumbra tropeço nos tocos,
Contudo, eu sei dos rochedos.)

A Lua, ontem, iluminando demais,
Foi um sinal que não desvendei.

(Eu que conheci mistérios astrais,
E dos astros já fui rei.)

Anoiteceu tão prontamente
Que as estrelas pareciam outras.

(E nem sei o que você sente,
À noite, entre e o escuro e as ostras.)

(Luciene Lima Prado) 

UM VERSO COMO ÓPIO

O mais perfeito verso
Poderia ser meu ópio,
Um corte em minha amargura,
Uma tarde de sol deleitosa.

Não tenho versos perfeitos,
Tenho apenas o lápis,
O papel que me hipnotiza,
Uma tarde de sol incompreensível.

Eu queria o ópio de um verso,
Do teu verso perfeito,
Ainda não cogitado
Sob esta tarde em nossas mãos.

(Luciene Lima Prado)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AUTORRETRATO POÉTICO

Noutro espaço tenho o peso das vírgulas,
O contexto reto das canções frívolas;
Não sou artista em terra que não me cabe,
Meu destino está onde não há chave.

Não me deslumbro com criações ridículas,
Mas sim com a dureza das penínsulas,
Das quais te vejo partir tão suave,
Carregando na alma o que ninguém sabe.

De outra dimensão avisto teus desejos
Com meu olhar aliviado de ensejos,
Numa pontuação jogada à fortuna.

Não me define o que tem alguma lógica,
Porque seria eu só uma verdade trágica
Escondida numa canção noturna.

(Luciene Lima Prado)

A BOCA


Minha boca tem
O sabor e a peçonha,
A vida e a escuridão,
A certeza e o mistério.

Saem da minha boca
Um cheiro de fronha,
O hipnotismo da canção
E todo meu império.

Em minha boca,
O beijo tíbio e mortal,
A bonança e a fúria,
A tarde e o inverno.

Em minha boca,
O último castiçal,
A alma agora impura
E o amor nunca eterno.

Eis que minha boca sucumbe,
Murcha, insana e púrpura.

(Luciene Lima Prado)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

KYRIE ELEISON!


Deixa-me, meu Deus, encostar em teu ombro a minha cabeça.
Lamento por meus pecados, essas atitudes nauseantes.
Não deixe que eu,    sua ovelha, por algum acaso, esqueça
Das minhas faltas cometidas contra meus semelhantes.

Meu Deus, neste momento, por alguns instantes,
Permite que a ti meu frágil coração eu ofereça;
Deixa-me, meu Deus, encostar em teu ombro a minha cabeça.
Lamento por meus pecados, essas atitudes nauseantes.

Ainda que nas noites tristes e solitárias apareça,
De repente, alguma angustiante lembrança de antes,
Que eu, por esse motivo, não me entristeça.
Possa eu te render agradecimentos, mesmo balbuciantes.
Deixa-me, meu Deus, encostar em teu ombro a minha cabeça.

(Luciene Lima Prado)

http://www.youtube.com/watch?v=37q9zIznj2M&feature=fvsr

“INCAMINHOS”


Eu quero o morno conforto de um lume,
Uma palavra que me desaprume,
A rigorosa convicção das pedras
E a utopia incerta de todas as guerras.

Mas me livrem das canções que já sei,
Da inflexibilidade de uma lei,
Das sombras hostis dos arranha-céus
E das confissões insanas dos réus.

Que me abram as portas quem lê Cecília,
Quem, com palavras, tece sua vigília,
Fingindo que dorme, mesmo em delírio.

Que me fecham as portas, num martírio,
Quem nunca pôs nuvens em um papel
Ou sentiu um gostinho entre o mel e o fel.

(Luciene Lima Prado)

ALÉM-ALMA

Busco meu último verso além-mar,
Na península onde minha alma nasceu.
Morreria com pesar, se atrás não fosse,
Em barcos de distinto papel de amor,
Ao encontro da vida-poesia que não vivi.

Além-mar,
Alma –peninsula,
Assim fosse,
Num papel distinto de amor,
Vida-poesia a procurar e encontrar...

(Luciene Lima Prado)

A CISMAR COM MEUS BOTÕES

Onde habita o riso
Que outrora nos espiava?

Foi-se ao chegar o siso
Com olhos de piaçava.

Mas se o riso já não está,
Que sorte será a nossa?

A alegria agora não há
Nem a quem curar nos possa.

Então nós devemos seguir
Sem o riso para nos espiar?

Um dia haveremos de sorrir
Como as aves que completam o mar.

(Luciene Lima Prado)

SONETO AO ENTARDECER


O pôr-do-sol me lembra Exupery,
Meu corpo chora, minha alma sorri;
Nobres lições de uma sábia raposa
Nas quais o meu pensamento repousa.

Eu tive em minha sossegada vida
Dias de felicidade garantida,
Recostada sob um ipê amarelo;
Lendo à luz de um ocaso muito belo.

Na minha vã memória, quantos príncipes!
Todos me trazendo desejos livres,
Dando-me rosas, fazendo-me única.

Sempre ao entardecer, sem súplica,
Vejo o pôr-do-sol, sinto-o em plenitude,
Criando em mim eterna juventude.

(Luciene Lima Prado)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

SERIGUELA

Eu quero o gosto da minha terra,
A simplicidade que nada me cobra.

O alimento futuro, que a gente enterra,
Cultivamo-lo com fé de sobra.

Eu quero da canção a beleza regional,
Que outras vogas não entendo.

Minha janela tem perfume floral,
Minha cerca de quiabento é sem remendo.

Não venha cantar outros mundos,
Não creio na Lua do outro lado.

A minha Lua nasce nos fundos
Do meu quintal estrelado.

(Luciene Lima Prado)

VOLÚPIA


A felicidade que em nós dimana,
Com gosto agradável que não acaba,
Parece água pura de cascata
A correr ao fundo de uma cabana.

Há de nos cobrir todo este prazer,
Em inúmeras gotas e sabores,
Pintados com as mais bonitas cores
Do “azulecer” ao esperado “enluecer”.

Mas paremos por um breve intervalo,
Que alegria em excesso também nos cansa
(Como já me entediou a velha França).

Então, nos delírios que tenho e embalo,
A felicidade virá... (outra vez)
Para nos levar em grande embriaguez.

(Luciene Lima Prado)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SEM BELEZA

Vou assim:
De sobrancelhas sérias,
Lábios tímidos,
Roupa fechada
Em meu corpo invisível.

Vou sem esperar:
Beijo da estrela da sorte,
Toque suave dele,
Perspectivas,
Um copo de vinho,
Insônias.

Bem que eu queria:
Uma taça de vinho
Para minha vida minúscula;
Como um banho inteiro,
Um choque prolongado,
Um curto-circuito
Na minha existência supérflua.

Só uma gota de vinho: luz neon das idéias.

(Luciene Lima Prado)

NO FIM DA AVENIDA

Talvez laço, talvez uma agonia,
Meu corpo se curva, minha alma desiste
Sou sombra e solidão no fim da avenida.
Derramo por entre os pedregulhos
As águas corrosivas da tardes sem Sol.

Talvez um desatino, talvez um instante,
As nuvens se fecham entre meu rio que seca.
Sou medo e esquecimento no fim da avenida.
Espalho réquiens dissonantes
Por onde brilham as taças de vinho.

Talvez amargo, talvez ácido,
Respiração acelerada sobre restos de pétalas.
Sou nada e mais nenhum mistério.
E ainda me ergo no fim da avenida:
Talvez, novo alvorecer; talvez, velho velejar.

(Luciene Lima Prado)

domingo, 5 de setembro de 2010

ENCANTAMENTO


Aprecio tuas palavras em ciranda,
Com a tua sensatez a lhes cobrir,
Os teus gestos altivos de vizir,
O repouso do Sol em tua varanda.

Aprecio tua canção à beira-mar,
A paisagem do teu quadro na sala;
Então, meu pensamento bom se cala
Para somente teu amor escutar.

Na melodia dos pássaros vejo-te,
E tudo se transforma em belo canto,
Que por ser divinal me causa encanto.

Com extrema emoção apeteço-te,
Aguardando-te à luz do meu abajur,
Com sentimento terno e todo azul.

(Luciene Lima Prado)

CASUAL


Sempre ser...
Nunca não ser...
Talvez ler Shakespeare.

Ficar e se recusar a ir;
Como estátua marmórea
Que nada condena,
Tampouco absolve.

O que vem depois?

...

Tudo termina assim:
No meio do rio,
A forma do medo;
No meio da gente,
O redemoinho.

(Luciene Lima Prado)

MULHER EM ORAÇÃO


Sob o véu que seu rosto encobre,
Seus lábios murmuram uma prece nobre.

(Fé intensa numa noite interminável)

Seus dedos passeiam pelo rosário,
Suavemente sobre contas de tom áureo.

(Fé de quem espera de Deus um conselho sábio)

Aos céus dirige, fervorosa, seu apelo,
Meditando cada mistério com zelo.

(Fé que a faz sentir o quanto Deus é afável)

Sua prece na última conta finda,
Enquanto, pela cidade, é noite ainda.

(Luciene Lima Prado)

GOTAS PERFUMADAS


Eu me banho no silêncio dum lírio
E no olor das minhas recordações,
Lavando meu pensamento em frações
Para nele preparar o meu exílio.

Num novo caminhar me purifico,
E nem o ontem sobra quando me deito;
Apenas vejo o amanhã sem defeito,
Como resposta d’outro tempo rico.

Eu me banho nas ilusões que apanho,
Pois dos lírios eu já tenho o sentido,
Já me esqueço do meu choro despido.

Assim, eu me reinvento sem tamanho,
Para prolongar meus passos na terra,
Antes da morte que a todos encerra.

(Luciene Lima Prado)

SEU CORAÇÃO NÃO TEM JANELAS

Seu coração não tem janelas
Para deixar entrar o amor,
Frio, nunca recebe calor;
Nada a entrar e sair por elas.

Esse coração, pode-se supor,
Enche-se de vãs querelas;
Seu coração não tem janelas
Para deixar entrar o amor.

Inúteis são as aquarelas
Pintadas em seu peito incolor,
Suas veias, quem, por elas,
Passará sem sentir dor?
Seu coração não tem janelas!

(Luciene Lima Prado)

UM POEMA, TALVEZ...


Tens a carne e o verso
A alma e o sonho impresso;
A manhã e vento,
A tarde e o rio cinzento,
A noite e o último lenço.

Tens a carne que sangra ao sol,
As horas que te enforcam com um nó;
A incerteza e a terceira estrada,
A escrivaninha e a poesia roubada.

Sentes que nada possuis além de ti próprio
E mais umas tragadas de ópio.

(Luciene Lima Prado)

sábado, 4 de setembro de 2010

CAMINHO VERSIFICADO


Eu derramo versos no meu caminho,
Com um gosto de sal e de gaivotas.
Desfio segredos em um pergaminho;
Entre céu, terra e mar desenho rotas.

Deixo o vento transportar meus poemas,
Além das borboletas sem quintais;
Porque ele vem com cheiro de alfazema
E leva até meus sonhos ancestrais.

Eu faço dos versos minha calçada
E me deixo levar pela poesia,
Sem me importar se poderei cair.

Mesmo que minha verve rodeie o nada,
Quero apenas ao clarear do dia,
Estender meus versos num ir e vir.

(Luciene Lima Prado)

UMA LEVEZA DE AMOR

Não jure em vão,
Com teu amor breve,
Apenas me dê a mão.

Cala-te sob esse amor leve,
Que nesta noite, em canção,
Em meu peito ferve.

Há um quê de verve,
Neste amor sem refrão;
Mesmo pouco, nos serve.

Amor que não tem imensidão,
Vem devagar como neve,
Vai embora sem ilusão.

(Luciene Lima Prado)

VERSOS MOLHADOS

Em mares camonianos naufrago,
Embora eu não tenha poesia.

E numa linha busco um verso vago
Que, de repente, minhas frases afia.

Não tenho pressa nem guardo as horas,
Apenas rezo e pelo Sol poético aguardo.

Quem sabe não hei de roubar poesias tortas
Dos versos perfeitos de Pessoa e seu fado?

Mas o que eu queria era encontrar as chaves
Que me abrissem as poesias de Castro Alves.

(Luciene Lima Prado)

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